quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O nosso mundo privativo



Hoje vi, nas redes sociais, uma frase supostamente ( e digo supostamente porque ainda nao li o livro portanto nao posso confirmar) escrita por Jose Saramago nos cadernos de Lanzarote , diario III, pag. 148 ( ela ate sabe a pagina... vejam la ao que isto chegou!!!)
«Privatize-se tudo,privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho,sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente,para florão eremate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados,entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas,mediante
concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora,privatize-se também a puta que os pariu a todos.»
E' absolutamente maravilhoso ver como a mente do escritor consegue sobrevoar e sobre-importar os conceitos e encadea-los em logica de pensamento,esses que parecem nada ter a ver uns com os outros, e faze-los parecer o unico caminho de pedras que atravessam o riacho.
Gosto de pensar que tudo o que me rodeia e um pouco meu, quem nao gosta de ter o seu proprio pedaco de mar ou o seu cantinho de ceu , a estrela que eu sei que mais ninguem viu no ceu e que so por isso e' so minha , esta ou aquela terra que e um pouco minha tambem...
O conceito de publico e privado anda, a meu ver, um pouco baralhado nas mentes humanas, tal como o conceito de igualdade e democracia.  A igualdade so consegue existir abracada ao conceito de diferenca, respeitando-se mutuamente, equiparadas em esforco e em recompensa quase em jeito de troca: eu dou-te a minha diferenca para que me des a minha igualdade tal como recebo a tua diferenca para me mereceres a igualdade. E e daqui que nasce a democracia, da troca, do respeito, da justa recompensa pelo trabalho realizado...
O mundo das criancas e' maravilhoso, ou deve ser, cheio de pensamentos e conclusoes que nos parecem a nos mirabolantes mas que sao apenas a conclusao pratica de quem so ainda tem os cinco sentidos e o sonho como referencias da realidade. Depois vao-se ganhando outros conhecimentos e referencias, muitas vezes atraves da imitacao, e e' facil esquecer as coisas simples e as conclusoes logicas, mesmo que mirabolantes, retiradas da observacao. Ha quem consiga trazer consigo a bagagem, cozinha-la com o que aprendeu imitando, fazendo assim  nascer algo novo e diferente em si : o trajecto da liberdade.  Mas uma coisa jamais esquecemos durante  o percurso que nos leva ao nosso destino: que os sonhos sao nossos, a terra onde nascemos e' nossa,  e o ar e o ceu jamais se poderao aprisionar. Sao nossos, um pouco nossos, e so' quando assim e' os conseguimos respeitar.

Este fim de semana vi uma curta metragem da Pixar que ilustra muito bem a importancia de todos termos o nosso papel, diferente, na sociedade. No universo das criancas, no meio de sonhos e das improbabilidades tecnicas, e tao bom descobrir que afinal e tao facil de explicar...
So consegui um mini trailer, mas o que vale a pena e' o filme, pelos vistos ainda nao anda a' solta no " tube".  Esta a ser apresentado antes da brave - a indomavel e chama-se La Luna. ( e Saramago meu caro, la ao pe da estrela em que esteja, e com todo o respeito que lhe mereco, pelo universo de literatura cheio, tambem, de ilusoes filosoficas que nos deixou...a puta tem de ser publica, porque se se privatizar, deixa de ser puta: logico nao???)

        
http://www.youtube.com/embed/ihQiAJnNnnY

1 comentário:

  1. A frase é dele e não podia estar mais actual :)
    público e privado não seria muito difícil de harmonizar se o privado não andasse a "mamar" do público ;)

    Bjos

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