quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Nós: dos grandes





" A Mininha disse: antes de um vulcão explodir, as cobras afastam-se, e se houver um rio ou mar no caminho, as cobras afogam-se. A Matilde baixou-se aos olhos da cria e limpou-lhe uma bágoa. A rapariga explicou: parece que vai tudo explodir. O medo fazia-se assim. Um medo feito de tristeza que tornava a menina arreliada numa pessoinha a vacilar"...

                                                                                     in O Filho de mil homens - Valter Hugo Mãe

" A companhia de verdade, achava ele, era aquela que não tinha por que ir embora e, se fosse, ir embora significaria ficar Ali, junto " ...

                                                                                      in O Filho de mil homens - Valter Hugo Mãe


Deixar ir é mau costume: já dizia a minha tão querida avó ( minha querida é mais uma das coisas em que não estávamos de acordo, e ainda bem que não concordávamos em tudo )  Na minha entendência saber deixar ir é também uma grande forma de se amar: há que saber deixar os filhos abrir asas e voar como se passarinhos fossem, procurando os galhos com que construirão seus próprios ninhos; há que deixar ir aqueles que gostamos, mesmo que contra a nossa vontade, desde que eles achem que vão para onde os seus sonhos se pareçam com o seu eu, como se de um olhar ao espelho estivéssemos a falar; Há que deixar partir com a paz da certeza do que sentimos, para que não restem dúvidas das intenções.

É por isso que vou, porque a vida é feita de ciclos e porque tal como na profecia Maia, houve um ciclo do meu crescimento que se fechou. Talvez que já não cresça em altura ( bem me parece que daqui só para baixo) mas o crescimento pessoal tal como a procura da sabedoria nunca terá um fim. O ciclo fechou porque não me restam dúvidas sobre as intenções, apenas do caminho a trilhar, para alcançar o próximo patamar.

Nós: os grandes ( para usar uma das expressões do meu mais velho) , somos complicados; mas é essa complexidade que nos faz escorrer de dentro uma nascente de pensamentos, que se transformam na expressão mais artística e sensível da beleza da humanidade. Uma irmandade que se une na conquista da beleza e da pureza de um pensamento livre, para combater as complicadas redes de interesses pessoais que se atravessam nas marés da vida: é este o trajecto da  nossa existência;  uns que apoiam, outros que por sua vez são atraiçoados por outros ainda, que pretendem um pouco daquilo que sonham ser o ter de outros (?; complicado? pois... e não disse que os nós eram complicados? )

Talvez a vida deva ser simplesmente como um nascer de sol : recomeça todas as manhãs, dando a cada dia uma luminosidade diferente, mas dentro dos mesmos tons, porque são esses os seu favoritos. Haverá alguma coisa mais bonita num dia do que o seu nascer? Então para quê complicar?


E tal como diz o meu mais pequeno, desolado a olhar para o relógio ( que por estar parado, lhe parece que não avança) : não se mexe...
Não faz mal filho, se tiveres paciência ele há-de estar certo, pelo menos uma vez ao dia.

Nós, os grandes, sempre que deixarmos escapar as pequenas coisas importantes, estaremos a ser cada vez menos nós.








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