sábado, 17 de novembro de 2012

Talvez...conduzir mais devagar


Talvez tenha sido um despertar presenteado; talvez uma loucura; mas talvez se não tivesse lá ido seria menos uma experiência que poderia recordar.
E a voz? Como se toda a cadência e potência do sentimento lhe saísse por aquelas cordas que abrilhantam os nossos sentidos, como se toda ela se agigantasse nos seus próprios movimentos.

Quem não sonhou um dia ser o interprete especial num local previligiado? Talvez vê-los assim presidencialmente apresentados, de camarote, observando os que deviam observar, transforme a noção de espectáculo. Espectáculo partilha, ou melhor, partilha espectacular...

Talvez os tempos sejam de abrandar,
talvez sejam tempos de esperar,
de proteger,
de inspirar e sobreviver,
mas talvez , ainda com as proteccoes vestidas,
não possamos deixar de procurar aquilo que nos faz feliz!

Tirem-me a vontade,
Levem-me o dinheiro,
Escondam-me a verdade
Visto-me e revisto-me da saudade
de um tempo, em que sonhando em liberdade
Construi a protecção que usarei,
Em tempos de austeridade

Talvez seja este o tempo de conduzir o nosso destino devagar...
Talvez seja esta a oportunidade de repensar o caminho
Talvez...tenha sido uma das melhoras experiências que vivi.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Ensaio sobre a cegueira

“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem”

“O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos, Quem está a falar, perguntou o médico, Um cego, respondeu a voz, só um cego, é o que temos aqui.”

“Lutar foi sempre, mais ou menos, uma forma de cegueira, Isto é diferente, Farás o que melhor te parecer, mas não te esqueças daquilo que nós somos aqui, cegos, simplesmente cegos, cegos sem retóricas nem comiserações, o mundo caridoso e pitoresco dos ceguinhos acabou, agora é o reino duro, cruel e implacável dos cegos, Se tu pudesses ver o que eu sou obrigada a ver, quererias estar cego, Acredito, mas não preciso, cego já estou, Perdoa-me, meu querido, se tu soubesses, Sei, sei, levei a minha vida a olhar para dentro dos olhos das pessoas, é o único lugar do corpo onde talvez ainda exista uma alma, e se eles se perderam”...

in Ensaio sobre a cegueira - José Saramago

No mundo dos cegos, a amizade é a unica coisa que nos distingue dos animais. É o medo, a ambição e o descuido pelo essencial que nos cega para dentro e para fora...

Eu: (também cega, por vezes) raramente me confesso...

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Dez e meio e dois palmos de gente: Sempre na minha mente (as Luzinhas)



Olho o relógio e os ponteiros passam, a marcar horas, pelo mesmo sítio, onde, há 10 anos, o relógio digital marcou pela ultima vez um número em que só eu contava...
Um sono aparentemente igual a tantos outros e o despertar que mudou para sempre o correr, o marca passo, a importância e a noção de que o tempo nunca tem tempo suficiente para demonstrar, fazer, aperfeiçoar e afeiçoar tudo o que pretendemos proteger daí para a frente.
Podia fazer correr as teclas do computador uma noite inteira e não conseguiria descrever o que já vi acontecer dezenas de vezes mas que quando nos calha a nós, sabe sempre a felicidade num estado indeterminado; indeterminado porque não há escala nesta vida que permita comparar com qualquer outra coisa: sentir nascer de dentro de nós, para a luz, uma nova vida, que a cada minuto que corre, daí para a frente, quererá ser sempre e sempre mais independente.

E porque todas as palavras, as letras e os sentimentos não chegam para preencher o interior do ser mãe

Parabéns por seres...  


Tu, uma das minhas luzes


         


Olha, olha esta luzinha a teu lado a brilhar
Assim nunca está escuro nem ficas sozinha
Que luzinha tão lindinha acompanha a menina
Olha, olha esta luzinha a teu lado a brilhar
Assim nunca está escuro e nem ficas sozinha
Ao bébé chamaste Zé e ao ursinho Antoninho
Antes que chegue o soninho
O que é que lhe vamos chamar?

Olha, olha esta luzinha...

Teu lado a brilhar... nem ficas sozinha...acompanha a menina...

Olha, olha esta luzinha a teu lado a brilhar (teu lado a brilhar)
Assim nunca está escuro nem ficas sozinha (nem ficas sozinha)
Que luzinha tão lindinha acompanha a menina (acompanha a menina)
Olha, olha esta luzinha a teu lado a brilhar (teu lado a brilhar)
Queria ter lar (ai que nome)
Que nome lhe vamos dar
Era tão bom ter um nome
Que nome lhe vamos dar?
Antes que chegue o soninho
O que é que lhe vamos chamar?

Olha, olha esta luzinha...
Olha, olha esta luzinha...
Olha, olha esta luzinha...
Olha, olha esta luzinha...

Luzinha....


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Plic-Plec * Tic - Tac



..."...há quem fale com as paredes. Em rapaz lera um romance de um escritor então muito lido, e mais tarde injustamente menosprezado, um tipo com nível, que em certas coisas ia direito ao assunto e que nesse livro falava com o seu próprio corpo, ou antes, com um ponto bem preciso do corpo, a quem chamava o seu "ele", para entabular um diálogo que nada tinha de banal. Mas aqui o caso era outro, porque o seu "ele" não era para aqui chamado, e limitou-se por isso a dizer: perna,oh, perna! Moveu-a e a resposta foi uma dor lancinante. Não havia diálogo possível. Estendeu-a com toda a cautela e a dor concentrou-se na coluna. Coluna infame! Voltou a irritar-se. Pensou que se chamasse o médico, com o qual tinha doravante demasiada confiança, ele lhe diria que estava com um ataque de literatura, observação que já em tempos fizera. Parecia-lhe ouvi-lo: meu caro, o problema está sobretudo no facto de adoptares posições incorrectas  ou melhor, de teres adoptado em toda a tua vida posições incorrectas quando escreves, porque infelizmente o teu problema é escreveres..."...


do conto  Pic plec, plic pec *   de Antonio Tabucchi em O Tempo Envelhece Depressa













Há quem fale com as paredes. Por vezes as paredes sabem mais de nós do que aqueles que vemos todos os dias e a quem podemos estender as mãos num abrir e fechar de olhos. É muitas vezes num abrir e fechar de olhos que tudo muda. São demasiadas as vezes que, entre paredes a quem chamamos nossas,  nos sentimos melhor e quando nos faltam as paredes faltam as traves mestras que mantêm a estrutura fixa, imóvel, segura, forte.
A protecção é um conceito abstracto mas que , por motivos de sobrevivência consideramos simples e fácil de atingir. Como todas as outras coisas é projectada numa imagem que convêm manter inerte durante a vida, para que não se perca. Inerte porque se quer sem vida , já que a vida pressupõe mudança e é essa mudança que teremos sempre muita dificuldade em aceitar, mesmo que ao espelho nos vejamos como facilmente "absoventes" do que é novo.  Absorvemos, observamos, protegemos, simplesmente sufocamos, ou então adormecemos, fingindo tomar o ar que nos interessa, projectado na imagem que entretanto passou a sonho.
O sonho de uma noite de Verão ( as melhores de todas) e onde se pode falar com quem e de quem a nossa imaginação conseguir criar e aí sim podemos seguramente falar com as paredes... ti(c)-ta(c)...

domingo, 4 de novembro de 2012

Por terras e águas do Luso

Da humidade que o bosque transmite, numa terra de água, estranho seria se não nascessem a cada canto,  todos diferentes, por vezes sozinhos, outras "aos molhos". Digo sempre que todos são comestíveis, mas alguns, são-o apenas uma vez...este não sei, que nada percebo de cogumelos, mas tem um aspecto mágico e só lhe faltava a lagarta a fumar, confortavelmente sentada por cima dele.

Parei em frente e esperei que saísse o coelho a olhar para o relógio, a confirmar-se atrasado. Ri-me com a noção que tive que essa imagem do coelho atrasado, me seria tão proximamente familiar.
A porta é minúscula e está implantada, cercada de plantas, num lugar tão improvável que quase que aposto que quem a colocou ali, esperava que parássemos a sonhar, à sua frente....



E por fim, depois de me ter fascinado por mais uma mata nacional, as placas a informarem os sentidos confirmaram-me o que antemão já pressentia  Por vezes existe mais do que uma hipótese de ir dar ao mesmo lugar, só que por uma delas, mais tarde ou mais cedo, vamos inevitavelmente enfiar um pé na cova...

Adorei as terras húmidas e quiméricas do Luso


sábado, 3 de novembro de 2012

Rua, passeio, estrada ou simples estação errada?



A rua era comprida, talvez demasiado ( rua, passeio ou estrada?) para quem desconhece a quantidade de passos que se deram para trás.
Olhou o mapa. Estranhamente naquele mapa não conseguia descortinar qualquer direcção visível. Tentara já volta-lo em todas as posições possíveis e nada, nada.
Sentou-se.
As folhas do chão, anunciando o Outono, formavam o tapete comum para a época. Quando teria chegado? o Outono? Não dera por ele chegar, ocupada que estava a encontrar a direcção.
Fechou os olhos.
O azul do céu colou-se ao chão e as folhas absorvendo o azul levantaram no ar, movidas por uma brisa que não sentiu. Bailavam, brincando, subindo no ar que se encheu de um azul, estranho para a estação.
Acorda!
Ah?
Acorda!
Já chegou?
Quem?
O outono?
Menina, em que mundo vives tu? Há que tempos que cá está.
Engraçado, não tinha dado por nada.
Tu nunca dás por nada.
Dou, quase sempre por nada...e paro sempre numa qualquer estação errada.


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Iluminando as horas...




..."Um barco aporta no rio,
Um homem morre no esforço,
Sete colinas no dorso
E uma cidade p'ra mim.

Gosto de ti como quem mata o degredo,
Gosto de ti como quem finta o futuro,
Gosto de ti como quem diz não ter medo,
Como quem mente em segredo,
Como quem baila na estrada,
Vestido feito de nada,
As mãos fartas do corpo,
Um beijo louco no porto
E uma cidade p'ra ti.

Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me"....


Pedro Abrunhosa - Ilumina-me


Toda a gente quer chegar, ninguém sabe bem onde, mas quer
é quase como um volver, sem saber o que querer...
Falta-nos luz, falta-nos um onde e um porquê
...vamos andando... até quando...
mas vamos... imaginando não morrer
vamos, imaginando um sempre mais arder,
num peito que pensa, enchendo de razão
o lugar do coração...
vamos...
ardendo, num lume de meter medo
esperando um amanhã iluminado
tal como o imaginado
amado
suado
forçado,
sofrido
carregando no sonho a luz
 de um futuro a fazer jus
ao que se caminhou,
ao que não se alcançou..

gosto da vida, mesmo que sofrida:
ilumina-me as horas,
torna-me a felicidade tão comprida
que faz esquecer todas as complicadas demoras...

Um ajuste nas contas
de quem não conta
com as rasteiras
e as asneiras
que a vida nos apronta...