segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Fagil_idades


Chamou-me a atenção pelo nome (o livro). Chamaram-lhe em português: "o
tempo envelhece depressa".
Engraçada a noção do tempo...
Muda continuamente enquanto o próprio tempo vai passando, escorrendo.
Disse-o já diversas vezes: escorre-me por entre os dedos, o tempo;tal
como as gotas de orvalho escorrem por entre as veias de uma qualquer
folha e caem no chão, para se transformarem em vida, nos ciclos do
tempo de que se alimenta a natureza.
É dessa fragilidade da noção do tempo que nos damos conta a cada novo
dia, e quando num desses, indiferente, um qualquer, de repente , tudo
se torna diferente ficam a faltar pedaços de coisas que não deviam
faltar, faltam peças, uma musica , uma palavra, faltou o momento que
se esgotou na espera de não se acabar, faltou a coragem da atitude que
ficou por tomar. Mudam os sentidos das coisas que faziam sentido, e o
que era pouco passa a muito e o muito desfaz-se em nevoeiro por entre
as dores de quem sempre esperou, por uma outra coisa. Incapaz, para se
transformar...


São como gotas de chuva
orvalho de uma nova aurora
medo que cresce em cada curva
fragilidade demonstrada a toda a hora
escorrem por estas linhas
que se transformam em veias
veias tuas, vidas minhas
presas em insignificantes cadeias

sábado, 20 de outubro de 2012

Certas coisas aparentemente impossíveis: outras formas de pensar...
















Há coisas aparentemente impossíveis, penso.
Penso?
Pensar , essa caracteristica que nos torna humanos  ( é?).
Pensarás tu? E em que pensas quando o tempo te escorre por entre os dedos e tu não sabes o que fazer com ele?
Existem ainda pessoas que não sabem o que fazer com o tempo. Calam-se os minutos , devagar, deitando-se sobre os segundos transformando-os, expandido-os.
Conto-te dos meus pensamentos no silêncio dos segundos que se transformam em minutos, crescem  os meus pensamentos, que falam de mim para ti em silêncio.
Enquanto isso coisas aparentemente impossíveis acontecem.
Pouso os pensamentos na prateleira da memória enquanto pousa em mim um estranho voador pequeno e frágil. No silêncio do bater das asas, frágeis, ouço o grito de quem não sabe do tempo mais do que a natureza obriga.
Voa, tal como o pensamento, para longe. Não te conhece nem tão pouco a mim mas cruzou-se no meu caminho enquanto tu , longe, cruzas-te com outros seres de outras formas.
Pensarás? Perguntas nunca serão respostas e no silêncio dos pensamentos o grito das palavras transforma-se no silencio de quem não sabe mais do que o dia  a dia obriga.

Vou-te contar, os olhos não vão ver, coisas que ninguem pode entender. Vou, voo...coisas aparentemente impossiveis. Será que pensas? Entendes?

Fundamental é ser feliz e há certas coisas que importam mais do que portas que só se abrem em pensamento... Mesmo frágil, a natureza ensinou-me que essas coisas, quando não se cruzam, são insignificantes na magnitude do significado de amor:
Amor é a cura dos erros que a natureza comete em nós; ou é isso ou é apenas um simples voo de uma frágil criatura, de asas frágeis, que se cruza contigo, por um mero acaso dos segundos que se transformam em minutos, expandindo e transformando o tempo com que gastas a tua vida....

e isso é o fundamento de tudo o resto: certas coisas que se transformam em muitas outras coisas, a cura dos erros que a natureza comete em nós. Amor, mesmo quando as criaturas são frágeis e se cruzam, por mero acaso, contigo.
Entendes?
Há coisas aparentemente impossíveis mas eu penso...

Um pouco de um outro céu

De repente o sol quer abandonar-te e o céu adquire aquela tonalidade nunca igual de quem deixa para trás algo que não poderá recuperar-se. Algo irrepetível. Para sempre memorável.

Sentada, o abismo que a ravina deixa adivinhar engole o silêncio que se repete continuamente dentro da tua cabeça. Gostavas de parar o tempo, de guardar para sempre aquela imagem e vive-la repetidamente como espelho da tua própria felicidade; mas o abismo devolve-te o silêncio que preenche continuamente a tua cabeça. 

O sentido de que tudo será diferente amanhã, transfere um sentimento de incerteza que te aproxima do significado de ravina: a raiva de um fundo sem chão, desconhecido e agreste. Sentes que a janela do teu mundo está lentamente a ruir e que para lá do que vês, o ocaso poderá ser diferente, em cada acaso, do que era até agora. 

O contraste entre o céu e o que fica para baixo, no precipício, para onde não queres olhar mas que se adivinha nas imagens que reproduzes do que virá, torna-se pouco perceptível. Como se o mundo tivesse parado, para ouvir o silencio dos teus pensamentos, e o céu fosse o teu próximo chão, e o chão do caminho a percorrer o teu novo céu. Sentes -te num avesso de sentires e de vontades, nada do que seria para ser, assim o será...

O teu sentido de futuro mudou, como muda todos os dias a beleza do sol que se encaminha para o outro lado do mundo, que até aí parece ter estado ás escuras à espera do seu lugar ao sol. Esse sol de que não queres perder a imagem, a lembrança, esse sol que seria teu, no seu perfeito lugar. Memorável. Inigualável...

...E de um momento para outro a noite chega. Diferente. Da janela , nada se percebe agora. A igualdade que nos dá a falta de luz, torna democrática a paisagem. Torna a maioria igual, aparentemente soberana. Pressentes o abismo, mas já não o vês.  E o céu ilumina-se agora com minúsculos pontos de luz, que dizem desde tempos incontáveis, devolver a quem para eles muito olha, a certeza de um caminho a seguir. A força da vontade de não parar, mesmo quando o abismo se mantém fixo, imóvel e imutável, no lugar que terás que enfim abandonar, para deixar o desconhecido lentamente entrar e ocupar o seu novo lugar ...





segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Rotas


Passas pelo mesmo caminho todos os dias, mas
escondidas na tua rota,
existem as curvas que te fazem abanar a cabeça e chocalhar os pensamentos
tentando em vão por em ordem o que parece espalhado pelo chão,
que não sabes como pisar.

Caminho...

Na clareira encontras o sol que se esconde
por detrás daquelas que lá estão e já la estavam
antes sequer de começares a pensar em passar por ali.

Clareira...

As árvores deixam que o sol espreite por entre as folhas que respiram,
fazendo com que este leve com ele tudo o que não necessitam e está a mais,
ajudando-as a transformar, reciclando.

Árvores...

Não andar,
não dar sequer um passo é motivo para ser menos eficiente?
Conta-me árvore, o que vês da altivez da tua inércia?
Fazendo mais por outros do que se poderia imaginar,
sem mexer nada de ti
a não ser quando o vento vem brincar para perto.

Não andar...

Todos os dia escondida na tua rota,
sem dar um passo que não seja necessário,
abanas a cabeça, negando curvas,
chocalhando os pensamentos tentando perceber,
que clareira esconderá o caminho que te levará
àquilo
que não queres de todo pisar...

Todos os dias escondida na tua rota...



"Se cuidas de mim
Eu cuido de ti também
Se vens em paz
Eu venho por bem
Se formos bebendo
o chão deste caminho
Vou guardar-te bem
Agora que sei
Que não vou sozinho"


Tiago Bettencourt - Se cuidas de mim







domingo, 14 de outubro de 2012

As várias formas de dizer: amo-te



No caminho para o modelo (ou continente se preferirem as constantes actualizações de marketing) encontrei esta maravilha e fotografei-a, porque me fascinou.
Fascinam-me as ideias, algumas delas aparentemente sem sentido, que o ser humano arranja para demonstrar o que lhe vai la dentro.
Este apaixonado escolheu baldes de lixo como pano de fundo (ou outdoor) para demonstrar o que sentia.

A duvida tem-me perseguido desde então. Será que rosa compreendeu a nobreza da atitude ( apesar de serem baldes de lixo? ) Será que ela percebeu que o seu apaixonado escolheu uma forma totalmente diferente e só por isso mais chamativa para lhe confessar o que provavelmente de outra maneira não a conseguiria fazer entender? Será que a rosa chegou a perceber que era A Rosa e retribuiu? Ou será que um dia ainda irei encontrar escrito, num outro qualquer lugar insólito, a resposta da Rosa, que talvez, também incapaz de se expressar de outra forma, escreverá algures por ai, num outro mural improvisado:

Também te amo, Ze !

Com tanta hipótese imaginativa de se demonstrar o que se sente, de forma tao "subtil" e engraçada, quem é que necessita de facebook?

Talvez seja este o novo paradigma do graffiti ...

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A semente da felicidade



... e depois ela quis ser feliz.
       ... um dia também ele tinha querido ser feliz.

Se fosses um dia de chuva diria que serias um daqueles em que a nostalgia até nos consegue fazer sentir maiores ( sabes como é?)  aquela nostalgia boa, de quem está de bem com tudo de bom e de mau que foi acontecendo ao longo do caminho.
Mas, se a memória não me falha, até nem chovia.

Era só de noite. Uma noite escura em que a única iluminação era a ponte que se fez a cada passo que os juntou.
Talvez se tenham reconhecido, talvez não. Quem consegue adivinhar a linguagem de uma voz que não fala?
Sentiram ( ou talvez não) que aqueles dias lhes aplacavam a solidão que se agarra ao corpo como se uma outra pele se tratasse.
...  depois ela continuou a querer ser feliz
      ...e ele continuou a não saber o que o faria ser feliz... ( só não me deixes gritar)
e a história deixou de fazer sentido...

Antes de tentar ser feliz , sonhava. Sonhava em ser feliz e era feliz sonhando...

Ele chegou. Tomou conta do  seu castelo nas nuvens ( era meu ou era teu, o castelo? ) . Prometeu, roubou o fogo dos Deuses e ateou-lhe a paixão. Mas os deuses castigam quem rouba o fogo sagrado sem pedir permissão para o fazer...e ela assustou-se.

      ....  ela continuou a querer ser feliz...
          .... e ele continuou sem saber se ela o faria feliz.

E a ponte (era uma ponte?) mudou de direcção e ela afastou-se, procurando noutros caminhos aquilo que se tinha proposto encontrar

... continuou infeliz. Quem sente de perto o calor do fogo dos Deuses não se contenta com nada mais.

Será que a linguagem das vozes que não falam são o código de honra dos que vestem a pele da solidão como se não conhecessem nenhuma outra?

Prometeu, roubou o fogo e não voltou...

    ....mesmo assim ela continua a querer ser feliz.

Dizem que a felicidade está dentro de nós. (Cá dentro? Estranho! há anos que me perco dentro de mim e ainda não a consegui encontrar)

     .... será que ele um dia também terá querido ser feliz?

Há sementes que não se devem lançar ao chão, porque se não forem para acarinhar, podem nunca chegar a crescer




" I heard that you're settled down
That you found a girl and you're married now
I heard that your dreams came true
Guess she gave you things,
 I didn't give to you
Old friend
Why are you so shy
It ain't like you to hold back
Or hide from the light

I hate to turn up out of the blue uninvited
But I couldn't stay away, I couldn't fight it
I hoped you'd see my face and that you'd be reminded"...

Adele - Someone like you

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A vida que se perpétua

Cantava-lhe todos os dia, ou quase todos, pelo menos sempre que podia. Cantava-lhe até que adormecesse. A sua voz era como se a luz de uma estrela enorme entrasse pela janela e iluminasse o espaço com o seu brilho. Esta parte já não tinha a certeza, era apenas a sua imaginação a magicar.

Imaginava-a linda, com uma voz suave capaz de enternecer as pedras da calçada de modo a que chorassem na sua ausência. Tal como ele a quisera chorar tantas e tantas vezes, com a presença da saudade que ela deixara no lugar onde a lembrança deveria ter a sua voz, a sua face.

O berço, talhado em madeira, forrado a branco de algodão, seria segundo sabia, obra das suas mãos para que o sonho o acolhesse sempre que ela não estivesse a seu lado. E não estaria. Nem a seu lado, e vagueando na sua memória só a imaginação daquilo que foram as palavras de outros a seu respeito.

Desconhecer o ventre onde se gerou o amor ou o seio que alimentou a existência que lhe permitiu os passos que foi dando era a pedra que trazia dentro do seu peito.

Embalava-o a certeza de que existira, que o amor que o acolhera era real. Lançava ao mundo a semente que permitiria partilhar o que bom dela continuava a existir...

Chorou. A madrugada acolhia assim um choro de vida...uma menina... alva como a outra estrela que não chegara a conhecer.

Chamar-se -á Utopia, em homenagem de sua mãe e de todas as mães que vivem e morrem na utopia da perfeição daqueles que serão para sempre seus: sangue e carne, genes, sofrimento, esforço e muito amor...

Chora ainda.
Na dor de uma
a vida de outra se perpétua...
terra, ventre, sangue e lágrimas
estrela que brilhas
na noite, no dia, em casa, na rua...
na dor de uma
a vida se perpétua
chora ainda...
estrela que brilhas


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Voltar



Subia a rua todos os dias, a mesma rua. Passava por baixo do
candeeiro, todos os dias, o mesmo candeeiro. Por vezes parava a
fitá-lo de baixo, só para sentir a luz a banhar-lhe os pensamentos,
como se dali viesse a iluminação necessária para carregar a baterias,
vazias, para o que iria encontrar a seguir.
Vê-lo de longe agora, dava-lhe uma outra perspectiva. Aquele que era
apenas o candeeiro da sua rua, dois passos antes de entrar em casa e
subir a escada, para lá dentro, encontrar sempre mais do mesmo, hoje,
de longe, tomava um aspecto diferente.
Estava parado é certo, no mesmo lugar, sempre, mas com uma aura
diferente, de magia, como se tivesse sido aquele o foco de luz,
ardente, que lhe aqueceu os sentidos no caminho que depois seguiu.
Foram tempos escuros , os que vieram depois... sentiu a falta daquela
luz que invariavelmente lhe iluminava as noites e as lembranças da
coragem que nunca teve a noção de que tinha, ou que iria ter depois.
Indiferente ao que foi e ao que será, o candeeiro cumpre simplesmente
a sua missão. Ilumina. Nunca tinha imaginado que para além das noites
também as mentes , as vontades e os caminhos da vida poderiam ser
iluminados por um simples candeeiro.
Vê-lo de longe agora dava-lhe uma outra pespectiva. Aquele seria
sempre o seu candeeiro, o candeeiro da sua rua, mesmo que outras ruas
já tivessem sido subidas, usadas, passadas ou vividas...
Subiu a rua, passou por baixo do candeeiro, e parou para fitá-lo de
baixo, só para sentir a luz banhar-lhe os pensamentos...dali viria,
ela já o sabia, a iluminação necessária para carregar a baterias,
vazias, para o que irá encontrar a seguir.


" Encontrar
Poder encontrar
Todas as coisas que eu não soube dar
Saber amar
Perdoar
Saber perdoar
Há tanto tempo que eu queria mudar
Queria voltar
Aceitar
Deixar que o tempo te faça voltar
Saber esperar "

Rodrigo Leão - A Casa



quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Acordar a cada passo

Penso na vida como se fosse um puzzle. Cada peça encaixa no seu lugar, mas muitas vezes o lugar certo desperta em ti depois de teres colocado muitas outras ( peças ).
As rotas por vezes saem do mapa e o gps perde na ligação ao satélite. Ficas à deriva, guiando-te apenas pelas estrelas esperando acertares na polar que te mostre o norte. Forte, ficas mais forte, é o que dizem. Mas os fortes também serviram sempre para proteger aquilo que lá dentro pulsava e imprimia vida a um determinado reino.
E cada um reina no seu trono, tendo por rei a sua própria eternidade, que depende do valor que se dá aos nós. Que se enlaçam e desenlaçam e formam as cordas de mãos humanas que te impedem de cair e de fechares ( no forte) a vida que há-de vir...


... Porque cada passo
é o governante
no paço inebriante
onde actua a tua vida
e a vida, traço a traço,
desenlaça cada laço
numa chegada ou numa partida...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O espaço

Nunca soube muito bem definir como era. O espaço.
Não sabia das imperfeições das paredes, nem se o branco que podia jurar ser a sua cor, estava já cansado dos anos em que se mantera firme na sua verticalidade .
Não se lembrava da porta, nem do puxador. Sabia descrever a janela e a paisagem como se lá voltasse todos os dias. mas não voltava.
Aliás não voltava lá desde que da ultima vez não conseguira abrir a porta.
Trancada.
Trancaram o refugio, como se pertencesse a outro alguém. não pertencia, era seu.
O que mais gostava naquele lugar, para além da janela, que alterava a paisagem de todas as vezes que lá tinha ido ( parecia que a paisagem adivinhava o que lhe seria mais proveitoso visualizar) era a quantidade de objectos que encontrava nos sítios mais impróprios e nunca no lugar certo. Ali a máxima cada coisa no seu lugar e cada lugar para a sua coisa não valia nada, ou seja , valia o que valia, o valor das palavras que se dizem por dizer.
A Confusão reinava, com o telefone no cimo da estante dos livros, ou, como da outra vez, em que encontrou o sofá virado de pernas para o ar e a descansar, no seu topo, uma jarra com um girassol, de uma cor completamente impossível.
Impossível.
Não teremos todos os nossos locais impossíveis? as nossas paisagens impossíveis?
Trancaram-lhe o acesso quando a porta pareceu começar a ficar demasiado pequena para conseguir entrar sem se dobrar.
Não sabe quem tem a chave.
Sabe que naquela janela a paisagem muda todos os dias completamente indiferente ás leis das estações onde nenhum comboio pára porque a vida está no movimento perpétuo, tal como na mudança de paisagens.
Agora as coisas continuam a ter locais impossíveis e sem lógica, mas o espaço já não é o seu.
É isso aí... a vida adulta começa quando finalmente percebemos que não temos nenhum controlo sobre aquilo que racionalmente chamamos lógica. Mas ela ( lógica?) jamais vai parar de olhar, procurando o lugar onde as suas coisas se encontravam, próprias, para cada dia, conforme a estação onde o comboio poderia parar , só por um instante...para descansar...


...e se só por um dia
acreditares que a estação é tua
a letra que ninguém entendia
passará a ouvir-se até na lua...
O comboio acabará por parar
no local que foi escolhido
nesse lugar, a descansar
encontrarás o teu sentido...

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A Flor de Sal



" Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal
da terra: e chama-lhes o sal da terra, porque quer que façam na terra
o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a
terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que
têm o ofício de sal, qual será , ou qual pode ser a causa desta
corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa
salgar. "...


Sermão de Stº António aos peixes -
Padre António Vieira




Branca, fria(?), ar tosco. Os primeiros raios da luz da manhã insidem obliquamente nas suas minúsculas folhas deixando a descoberto um suave brilho, que só se percebe bem em algumas incidências.
A luz decompõem-se.
P`las lágrimas, deixando-a a descoberto, as várias tonalidades que a luz branca pode gerar formam um arco-íris em cada folha. A íris, na palete de cores confunde e pode fazer dela qualquer
flor.
Não é uma qualquer. É a flor de sal.
Suave visão, branca como a neve... e ainda a vida, a manter-se à superficie como se uma ilha fora, tentando não afundar, para não se tornar apenas em mais sal vulgar. Colhida por mãos alheis, desfolhada em minimos cristais: pedra brilhante, agora, deformada.
Num qualquer prato servida? Não! As folhas que brilhavam e fizeram dela flor, lembram, no gosto do seu tempero que a mão certa só do melhor se servirá...



..."Few tears
Few milles
between my vision
and your calm routine

And I`m stading here
happy to be here
happy to be here
here and now" ...


Open Window - THE GIFT